O termo dislipidemia é utilizado para designar as alterações dos lípidos (gorduras) no sangue. As dislipidemias são consideradas como um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, uma vez que estão envolvidas no processo da aterosclerose.
A aterosclerose é um processo no qual ocorre a acumulação progressiva e excessiva de gordura nas paredes das artérias. A acumulação de gorduras nas paredes das artérias pode levar à obstrução parcial ou total do fluxo sanguíneo afetando a irrigação dos órgãos como o cérebro e o coração.
As dislipidemias podem na sua grande maioria ser controladas com alterações no estilo de vida, nomeadamente através da alimentação e da prática exercício físico de forma regular, conforme abordaremos ao longo deste artigo.
Dislipidemias e doenças cardiovasculares
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) as doenças cardiovasculares são a principal causal de morte no mundo.
As doenças cardiovasculares são as que afetam o sistema circulatório, ou seja, o coração e os vasos sanguíneos e, constituem um grupo de doenças inter-relacionadas que incluem aterosclerose, hipertensão arterial, cardiopatia isquémica, doença vascular periférica e insuficiência cardíaca.
Existem diversos fatores de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares, sendo que os podemos dividir em dois grupos distintos, os comportamentais e os de risco clínico.
Fatores de risco comportamentais:
Tabagismo (ser fumador);
Alcoolismo;
Sedentarismo;
Hábitos alimentares desequilibrados;
Fatores de risco clínicos:
Hipertensão arterial;
Diabetes mellitus tipo II;
Pré-obesidade e obesidade;
Dislipidemia;
Síndrome metabólica.
Existem fatores de risco que não são possíveis de modificar, tais como: a idade, género e hereditariedade, mas uma grande maioria destes são possíveis de prevenir e esses podem ser considerados fatores de risco modificáveis.
Os fatores de risco cardiovasculares sobre os quais é possível atuar de forma preventiva são:
Sedentarismo;
Hipertensão;
Tabagismo;
Stress;
Obesidade;
Diabetes;
Dislipidemia.
Grande parte das doenças cardiovasculares podem ser prevenidas através da adoção de estratégias de controlo dos fatores de risco comportamentais, a saber:
Deixar de fumar;
Fazer uma dieta desequilibrada, evitar a obesidade;
Fazer exercício físico (evitar o sedentarismo)
Reduzir o consumo de álcool.
Diferentes tipos de dislipidemias
Existem diferentes tipos de dislipidemias dependendo dos valores de lípidos no sangue e dos parâmetros que se encontram alterados.
A dislipidemia pode, assim, ser dividida em vários tipos, a saber:
Hipercolesterolemia – aumento do colesterol total e/ou colesterol LDL;
Hipertrigliceridemia – aumento dos triglicéridos;
Dispilidemia mista – combinação dos dois anteriores, colesterol total elevado e/ou colesterol LDL e triglicéridos elevados;
Hipolipidemia – diminuição do colesterol HDL.
Os valores de referência para os lípidos no sangue são:
Colesterol total - < 190 mg/dl;
Colesterol LDL - <115mg/dl;
Colesterol HDL - >40 mg/dl no homem e >45 mg/dl na mulher;
Triglicéridos - <150 mg/dl.
Para além dos diferentes tipos de dislipidemias, dependendo dos fatores que estão na sua origem, podemos classificar as dislipidemias como sendo:
Dislipidemias primárias – têm uma componente genética e hereditária à qual pode estar associado fatores de risco ambientais e comportamentais;
Dislipidemias secundárias – estas normalmente surgem no seguimento da existência de outras doenças pré-existente ou associadas a estilos de vida desequilibrados.
Tratamento das dislipidemias
O tratamento e controlo das dislipidemias passa por uma abordagem multidisciplinar e multifatorial, na qual é importante mudanças no estilo de vida, como alimentação e exercício físico.
O tratamento nutricional das dislipidemias prende-se com a normalização dos valores de lípidos no sangue e a diminuição do risco de desenvolvimento de doença cardiovascular.
Através de alterações na alimentação e inclusão do exercício físico é possível ao doente melhorar os parâmetros anteriormente referidos (nomeadamente o valor do colesterol LDL e HDL).
Estas alterações no estilo de vida e alimentação podem ser recomendadas como uma primeira abordagem antes da terapia farmacológica (medicamentos ou remédios) ou pode ser recomendada como fator adjuvante à terapia farmacológica.
Terapêutica nutricional das dislipidemias
A concentração dos lípidos (gorduras) no sangue está relacionada com a ingestão de gorduras através da alimentação. Como tal, de forma a promover a normalização dos valores sanguíneos é essencial a adoção de estratégias nutricionais, nomeadamente através da redução do consumo de gorduras saturadas, pois estas influenciam negativamente os níveis de colesterol.
A gordura obtida através da alimentação pode ser dividida em diferentes tipos:
Colesterol – pode ser de origem endógena (produção pelo fígado) ou de origem exógena (através da ingestão alimentar);
Saturadas – esta gordura está associada com o aumento do colesterol LDL;
Insaturadas – dentro das gorduras insaturadas existem 3 principais tipos:
Monoinsaturadas – normalmente estão associadas à diminuição do colesterol LDL;
Polinsaturadas – inclui o ómega 3 (associado com o aumento do colesterol HDL) e o ómega 6 (associado com a redução do colesterol total e do LDL);
Trans – associada com o aumento do colesterol LDL e dos triglicéridos e diminuição do colesterol HDL.
Através da alimentação é assim possível obter diversos tipos de gorduras, entre as quais a gordura saturada, a qual tem vindo a ser descrita juntamente com a gordura trans como sendo um dos principais fatores responsáveis pelo aumento dos níveis de colesterol.
A gordura saturada encontra-se presente, principalmente, em produtos de origem animal, como a carne e derivados (produtos de charcutaria e salsicharia), lacticínios, manteiga, assim como em produtos processados e de pastelaria.
A gordura trans também pode ser encontrada em produtos processados, como bolachas, snacks doces e salgados, mas também em molhos, alguns tipos de margarina e produtos pré-confecionados (como por exemplo refeições pré-feitas e congeladas, pizzas, hambúrgueres).
Normalmente, associado ao elevado consumo de fontes alimentares de gordura associada existe uma redução no consumo de fibras e gorduras insaturadas (como as monoinsaturadas e as polinsaturadas). A fibra alimentar, presente por exemplo em legumes e fruta, promove um aumento da excreção de colesterol a nível intestinal, sendo o seu consumo insuficiente um fator negativo no controlo das dislipidemias.
Relativamente aos restantes tipos de gordura, como a gordura monoinsaturada e polinsaturada, podem obtê-las através das seguintes fontes alimentares:
Gordura monoinsaturada: azeite, óleo de amendoim, frutos oleaginosos (como por exemplo as amêndoas, nozes, avelã), abacate;
Gordura polinsaturada: frutos oleaginosos, sementes, peixes gordos, óleos vegetais;
Ómega-3: peixes gordos (como por exemplo, salmão, sardinha, cavala, atum, arenque), sementes de cânhamo, linhaça e chia, óleo de linhaça, beldroegas;
Ómega-6: óleos vegetais (como por exemplo, óleo de amendoim, soja, girassol, milho), frutos oleaginosos, sementes.
Recomendações nutricionais para o controlo das dislipidemias
A terapêutica nutricional que tem vindo a ser recomendada para o controlo e normalização dos valores de lípidos no sangue passa pela adoção do padrão alimentar da dieta mediterrânea ou da dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension).
Os princípios e principais recomendações alimentares destas duas abordagens passam pelos seguintes pontos.
Alimentos a incluir, privilegiar o seu consumo:
Fruta e legumes, de preferências produtos frescos, respeitando a sazonalidade dos mesmos;
Cereais integrais e frutos oleaginosos;
Azeite virgem extra como a principal gordura para temperar e/ou cozinhar;
Peixes, incluindo pelo menos 2 a 3 vezes por semana peixe gordo, como por exemplo sardinha, cavala e salmão (o peixe gordo é uma excelente fonte de ómega 3);
Optar por lacticínios com um baixo teor de gordura;
Dar preferência a carnes brancas, como as aves e o coelho.
Alimentos que deverão ter um consumo limitado:
Pão e massas confecionados com cereais e farinhas refinadas, arroz branco;
Limitar o consumo de carnes gordas, como vaca, borrego, porco ou vitela, assim como os produtos de salsicharia e charcutaria (por exemplo, salsichas, salame, bacon);
Evitar o consumo de lacticínios com um elevado teor de gordura, como natas, leite gordo e queijos gordos;
Limitar o consumo e utilização de óleos vegetais, margarinas, manteiga, banha e molhos com gordura;
Reduzir a adição de sal (pode optar por utilizar especiarias e ervas aromáticas para dar mais sabor aos seus cozinhados);
Limitar o consumo de alimentos processados, assim como de açúcares simples.
Para o caso específico da hipertrigliceridemia as recomendações alimentares são semelhantes às anteriormente mencionadas, com a exceção do consumo de açúcares, que é necessário que seja reduzido e controlado.
Como tal, para além das recomendações nutricionais anteriormente referidas é também recomendado:
Controlo e redução (depende de individuo para indivíduo) do consumo de fruta, pois esta possui quantidades significativas de sacarose e frutose;
Redução do consumo de açúcares simples e alimentos processados;
Eliminação de bebidas açucaradas, como sumos naturais e refrigerantes;
Exclusão da ingestão de bebidas alcoólicas.
Para que exista um controlo dos níveis de lípidos no sangue é recomendado a realização de análises de controlo, permitindo desta forma ao seu médico e nutricionista o ajuste da terapêutica implementada e estilo de vida, inclusive alimentação, e verificar a eficácia das mesmas.
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